A grelha – acto contínuo, 2021

ANA VALQUARESMA

840 x 690 mm, 135 x 100 mm, 135 x 100 mm; algodão, lã, linho, impressão fotográfica s/papel.

A estrutura do tecido e a infinitude da grelha correspondem-se. O tecido, que surge do entrelaçamento sequencial de fibras, possui a mesma índole da grelha, suporte que participa no acto de fundar o real, determinando-o. A prática de tecer, similar à de submeter o objecto de estudo a uma grelha, encerra a ideia de movimento perpétuo, cadenciado, e comporta um pendor estruturante.

Uma vez reconhecida a concordância entre meios, foi desempenhada a tarefa de os cruzar. Para tal, foram utilizadas fotocópias de fotografias da maquete de uma casa, previamente cortadas em tiras finas, de forma a criar imagens tecidas.

O manuseamento da imagem desconstruída e a sua sujeição a uma métrica cadente, permitiu a eclosão de novas configurações da casa. Representada através da maquete fotografada no terreno da sua construção futura, a casa apresenta uma relação de proporção inversa com o mesmo. A pequenez inerente da maquete fez com que se facilitasse o processo de pensar a forma desprovida do seu carácter utilitário. Através da adulteração das fotocópias, a casa foi tratada como sombra, vestígio, aparelho óptico e parte integrante da paisagem.

Ao pensar as noções de paisagem e território, fixando a atenção no conteúdo envolvente da maquete, adensa-se a sugestão de olhar o território como tecido. A estrutura do tecido é análoga ao território, o padrão é análogo à paisagem. Ao tecido de padrão contínuo, adiciona-se um bolso de perceptibilidade reduzida, quando vazio, que se manifesta no verso do pano ou quando se encontra ocupado.

Assim, a maquete transita para fenda que deturpa a paisagem e, finalmente, para bolso. Na paisagem que o tecido representa, a fenda afigura-se como bolso, que se molda ao redor da mão.