Pedra, 2021

ANA VALQUARESMA

Dimensões variáveis; cera, pigmentos, pasta cerâmica, gesso, cartão, fita-cola, lã, desenhos s/papel.

Considere-se a imagem de uma pedra: matéria vulgar, com peso, indiferenciada e preterida. Aqui, a pedra em questão ganha relevância porque se situa dentro de um território que se pretende representar. Ao encerrarem coordenadas tangentes, a pedra e o território equivalem-se. Aproveitando a sinédoque, substitua-se o território pela pedra: esta série de explorações investiga a pedra como se do território se tratasse.

Não sendo possível analisar a totalidade do terreno de forma tão minuciosa, toma-se a pedra como referente e objecto de estudo exaustivo: a pedra vai-se desdobrando numa variedade de formatos.

A tentativa de recolher o máximo de informação possível, bem como a de preservar e analisar com o maior grau de objectividade, traduziu-se em representações da pedra onde o erro prevalece. Cada decisão de representação compromete a veracidade da forma, apresenta desvio e clivagem. A documentação da pedra é condenada a um jogo perceptual. Uma vez reconhecida esta fragilidade representacional, fez-se dela ferramenta. Foram utilizados métodos erráticos e incontroláveis, tais como a cozedura de cerâmica através de uma soenga, onde não é possível controlar de forma precisa as tonalidades de negro ou efeitos subsequentes que a pasta adquire, e, entre outros, a utilização de métodos como a frotagem, que, apesar de fornecer um registo pouco mediado do objecto de estudo, depende directamente da forma como o material é aplicado. Subverteram-se qualidades da pedra, como o seu peso, no caso da versão de cera, por exemplo, que aparenta ser real, mas é extremamente leve e frágil.

Reuniram-se meios perceptuais suficientes para que se originasse uma pedra artificial, cenográfica, que enfatiza a importância da relação das partes com o todo.