Dimensões variáveis; aguarela, papel vegetal, pigmentos, impressão fotográfica s/papel, gesso, látex, terra, pasta cerâmica, marcador e tinta-da-china s/papel, lã.
Tendo como ponto de partida um conjunto de desenhos técnicos da configuração de uma casa, tomou-se o desenho projectual do seu telhado como elemento preponderante na série de trabalhos a ser desenvolvida.
O telhado foi temporariamente alienado do seu contexto e função, de modo a possibilitar novas interpretações. A forma foi trabalhada isoladamente com o auxílio de várias técnicas. Em qualquer um dos desenhos, é verificável um gesto unitário, repetido vezes suficientes para cumprir a forma: no spolvero, os furos foram feitos com uma agulha, individualmente; na aguarela, a signografia do telhado corresponde a pinceladas particulares. Nestes desenhos, a telha é representada como gesto multiplicado, o telhado é o prolongamento do movimento. Torna-se evidente a correspondência entre corpo e telhado: a cobertura da casa também é a do corpo.
O vínculo entre telhado e corpo é exacerbado através das telhas modulares, construídas à escala humana, com o auxílio das coxas e dedos, utilizando argila. No acto de construir as telhas, determina-se o telhado no mundo e o posicionamento do corpo face ao mesmo, sincronicamente. Executa-se parte do desígnio projectual da casa e a sua geografia veicula-se à do corpo que o contrói. A telha afigura-se como pele.
Tomando a telha como unidade, realizam-se e organizam-se tijolos de terra segundo a configuração do telhado. Todas as decisões tomadas são movidas por uma relação de dependência com o lugar, com as suas coordenadas e à escala de quem as faz: as telhas são realizadas a partir da perna; para cozer a pasta cerâmica, recorre-se à soenga com lugar no próprio terreno; os tijolos são feitos a partir da terra cavada do mesmo local.
Posteriormente, produz-se um molde em látex e gesso a partir dos tijolos de terra. O molde serve de guia para um spolvero que capta as especificidades de cada tijolo, a sua pequena orografia. Do spolvero resultam aglomerados de pó, pontos desorientados no espaço. Ao utilizar uma grelha como elemento intercessor, os pontos convertem-se em coordenadas. Assim, procede-se à execução manual de uma grelha sobre a qual se aplica o spolvero. Após a determinação dos pontos, a sua união é feita segundo linhas fluídas, que remetem para uma imagem intrínseca do corpo, que o significa, e que também se entrega à figura de raiz, de alguma coisa vegetal ou de registo caligráfico.
Paralelamente à feitura do desenho, é tecido um cobertor, no sentido de contrapor o telhado, exterior e duro, ao cobertor, objecto mole e do interior da casa.
O cobertor segue as mesmas premissas da grelha. Mediante a escolha de um tecido com uma estrutura simples, o tafetá, estabelece-se uma relação de equivalência entre grelha desenhada e tecida. O cobertor encontra-se preenchido com imagens semelhantes às do desenho, recorrendo a fio. O seu posicionamento é susceptível de ser alterado, salvo nos pontos que se encontram costurados. Esta característica torna a imagem híbrida.